sexta-feira, 23 de abril de 2010

Fragmento: Capítulo 7 - Láudano e Absinto

(...) “Você tem alguns livros bem interessantes...” Eu disse, enquanto olhava para os volumes que estavam na prateleira e na estante. “É, alguns eu trouxe comigo, outros já estavam aí, e acredito que eram da antiga dona do apartamento. Esse História da Arte em três volumes por exemplo; não sei como deixaram essa obra aqui, são volumes caríssimos...” Ela disse, enquanto depositava a bolsa sobre a pia da cozinha e retirava algumas coisas. “Pode ficar a vontade, eu vou preparar alguma coisa pra gente comer... A surpresa é depois do jantar.” Alexa falou sorrindo, e eu tentava não demostrar muita anciedade. “Apologia de Sócrates?!” Questionei. “Esse é meu, um dos que eu trouxe.” Ela respondeu. Os livros eram quase todos sobre arte ou obras de filosofia, apenas dois ou três romances completavam a pequena coleção: Além da História da Arte em três volumes, de cujo autor não me recordo, estavam tabém alguns de uma coleção contendo a história e reproduções de obras de grandes pintores: Leonardo, Goya, Rembrandt, Delacroix, Monet, e outros; uma obra sobre técnicas de pintura a óleo e pastel seco, a Interpretação dos Sonhos de Freud, a já mencionada Apologia de Sócrates (de Platão, pois Xenofonte também escreveu uma apologia ao mestre), O Mundo Como Vontade e Representação, A Microfísica do Poder e a História da Sexualidade em três volumes, a minha velha conhecida Crítica da Faculdade de Juízo, A Genealogia da Moral, Escritos Políticos e O Príncipe, A Poética e A Retórica, Crime e Castigo, O Alquimista e o Diário de um Mago, entre outros.


“Posso tomar um banho?” Perguntei. “Pode sim, usa a toalha que está aí no banheiro.” Estava frio lá fora, mas no apartamento a temperatura era muito mais amena, e por baixo de toda aquela roupa eu já começava a me sentir incomodado. Foi bom sentir a água quente do chuveiro caindo sobre meu corpo. Saí do banho e ela já estava terminando de arrumar a mesa. “Espera só um pouquinho que eu vou tomar uma ducha também.” “Tá bom.” Eu disse. E enquanto eu ouvia o barulho da água no banheiro, e da chuva que agora caía mais forte lá fora, peguei na estante um dos livros sobre pintores, era o volume de Goya. Folheei as páginas apenas olhando as pinturas, até chegar a La Maja Vestida, recostada placidamente em seu divã, sobre grandes travesseiros, com seu longo vestido branco delineando voluptuosamente as curvas de seu corpo esguio, e uma facha a envolver sua fina cintura, os pés ocultos por dois pequeninos sapatos dourados, e as mãos cruzadas atrás da cabeça; La Maja, lançando seu olhar sedutor e sorriso provocante diretamente ao observador. Virei a folha, e lá estava ela, La Maja Nua, ainda recostada em seu divã de grandes travesseiros, de mãos cruzadas atrás da cabeça e lançando seu olhar atrevido, cigana de cabelos cacheados e sorriso matreiro, agora de pés desnudos; pés, pernas e pelos, exibindo sua cintura fina e seios firmes e redondos, La Maja erótica, lançando ao observador seu olhar convidativo . La Maja Nua... Maja Vestida... Maja Nua..., tentei perceber as diferenças entre as duas pinturas, os detalhes... Maja Vestida... Maja Nua... Alexa vestida... Alexa nua, no banho, enquanto a água quente escorria por seus cabelos ruivos, pelos ombros claros, por entre os seios, barriga e pernas. Ela demorava, imaginei, estaria gozando a água quente? O chuveiro aberto. Estaria pensando em mim, como eu estava pensando nela? Pensando em mim em baixo do chuveiro, na água quente, pensando em mim e se tocando, como as vezes eu fazia pensando nela? Inconscientemente já estava com a mão por cima da calça segurando o pau, enquanto imaginava Alexa nua, com a mão entre as pernas sussurrando meu nome. De repente me dei conta de que o barulho do chuveiro tinha cessado, e que eu estava ali em pé, diante da estante, segurando o livro de Goya com uma mão e o pau com a outra; me recompus e continuei olhando para a pintura. La Maja, até que Alexa lembrava um pouco Maja, não fosse tão ruiva.

Ela saiu do banheiro vestindo o roupão de banho e com uma toalha em volta da cabeça; apanhou um robe na gaveta da estante... “Só um momento.” Disse, e voltou para o banheiro. Ao que logo saiu novamente, vestindo o robe de ceda floral e de cabelos presos. “Então, vamos jantar?” Ela disse sorrindo.

Nos recostamos para a refeição. A mesa não era uma mesa de jantar, e nem mesmo de cozinha; se tratava de uma dessas pequenas mesas de centro que se costuma colocar nas salas de estar, nada mais adequado, posto que o apartamento era quase todo uma grande sala. Recostamo-nos, nos travesseiros que antes estavam na cama, sobre um tapete; jantamos como os antigos gregos e romanos, que tomavam suas refeições recostados em divãs. Não pude deixar de reparar em Alexa, cabelos presos em um coque, enquanto algumas mechas cacheadas escorriam soltas pela lateral de seu rosto, deitada de lado, usando o robe de seda que ressaltava as curvas de suas pernas e cintura, o pequeno volume dos seios... “La Maja!” Pensei, e devo ter pensado alto, pois ela ouviu. “La Maja?” Ela perguntou confusa. “Deixa pra lá, não é nada...” “Me conta...” Ela disse pensativa, e associou a idéia, olhando por um instante para o próprio corpo, para o jeito que estava deitada e como o robe lhe caia; lançou para mim um olhar sedutor e um sorriso de malícia: “Você acha mesmo que eu pareço com ela?” E sorriu, talvez imaginando como seria posar para Goya...

Nenhum comentário:

Postar um comentário