segunda-feira, 15 de março de 2010

Fragmento: Capítulo 2 - Apartamento na Rua Saint Simon


“................................” “Sim, sim. “Então está combinado.” “..................., .................?” “É, no mesmo lugar.” “.............................?!” “Claro, pode ser...” “................................................................” “Então está bem, até mais tarde.” “.........” “ Beijo. Tchau.”

“Podemos continuar?” “Sim, claro, desculpe interromper mais era uma ligação importante.” “Entendi, mas como eu estava dizendo, o apartamento possui apenas um dormitório, como você pode ver, mas é confortável e aconchegante. Mesmo sendo um quarto pequeno. Originalmente o apartamento tinha dois quartos, o principal, e esse menor. Mas a antiga dona resolveu desfazer o antigo quarto, usando o espaço para ampliar a sala; acho que, por viver sozinha, e, imagino, não ter familiares, não tinha necessidade de dois quartos. Eu, pelo menos, nunca vi ela receber visitas de ninguém da família: pai ou mãe, sabe. Eu moro nesse prédio a muitos anos sabe, dês de antes de tudo acontecer...” “Aqui fica o banheiro?” “Ah! Sim, é nessa porta, pode entrar.” “Nossa! É grande.” “Sim, o banheiro foi o único cômodo que ela não reduziu; pode ver que é muito bonito, os azulejos e pisos, o espelho ainda está em ótimas condições, e ela colocou até esta banheira imensa...” “Uma jacuzzi.” “Sim, que seja. Só uma louca pra colocar uma piscina no banheiro [gargalhada].” “Muito bonito...” “Mas como eu dizia, moro aqui há muitos anos, e sei bem o tipo de visitas que ela recebia... Esta é a cozinha, que é anexa a sala como você pode perceber, também foi praticamente desfeita pra dar lugar ao cômodo.” “Sim, essa sala é realmente enorme...” “Enfim, de noite sabe, do tipo de visitas que ela recebia, eu sei bem, sabe, de noite as vezes ela trazia homens pra cá, eu já ouvi, várias vezes, e vi... Não que eu ficasse prestando atenção, você sabe, porque eu sou uma pessoa discreta, diferente de outros que moram aqui, que gostam de prestar atenção na vida alheia; mas, entende, as vezes eu via, mesmo sem querer, e já teve vezes de ela trazer até mais de um na mesma noite, ao mesmo tempo. Acho que por isso ela queria uma sala tão grande, pra poder fazer suas orgias...” “A sala é mesmo enorme, e quase não tem moveis, uma sensação de vazio!” “É verdade... Está quase tudo exatamente como foi deixado, dês de que tudo aconteceu... Como estava dizendo, então, sabe, ela dizia, que eram modelos, sabe, os homens que ela trazia pra cá, de noite, por que ela dizia que a melhor luz era a da madrugada. Eu não entendo dessas coisa, mas aposto que não passava de desculpas pra que ela pudesse fazer suas orgias sem ser incomodada, as vezes ela até colocava música, aposto que pra abafar os sons, de sua perversão. Esses artistas são todos uns loucos, bêbados e depravados, a maioria deles, uns drogados; não são como os de antigamente sabe, que pintavam os santos e as passagens da bíblia, e as imagens do Cristo... Como aquele, Leonardo, e Vivaldi, ele era padre não era? E... Enfim. Ela dizia que era artista, mas só pintava perversão, pessoas nuas, gente morta, e ‘aquela coisa que ninguém entende nada’. Como é mesmo o nome? Ah, não importa! Pra mim é só um monte de borrões de tinta. E chamam de arte; até o meu netinho faz isso; o meu netinho sabe, ela gostava de brincar com ele, mas eu sempre dizia ‘.... Entra pra dentro que o corredor não é lugar de brincadeiras! Vou dar queixa pra sua mãe.’ Ainda bem, por que depois tudo aquilo aconteceu e... Deus me livre, o meu neto, ainda bem. E eu aposto que ela usava drogas, sabe; depois que tudo aconteceu, quando a polícia esteve aqui revirando tudo e nos enchendo de perguntas – e eu respondia tudo por que podia ser importante né – acho que eles também encontraram drogas; encontraram muitas garrafas de bebidas, isso eu vi, bebidas que pareciam ser caras, vinhos finos sabe, coisa chique...” “O piso realmente está em muito boas condições não é, eu estava reparando, madeira muito resistente. Mas o papel de parede não está em tão bom estado de conservação, algumas manchas de umidade, e está rasgado em alguns cantos...” “É verdade, e tem essa pequenas manchas de tinta que ela deixou... Mas eu posso dar um jeito nisso, caso você venha a ficar é claro. Sabe, dês de que tudo aconteceu, o caso né, você deve ter ouvido falar, todo mundo ouviu; dês de que aconteceu, o valor desse imóvel subiu muito sabe, muita gente interessada, você não acredita em como as pessoas podem ser depravadas, principalmente esses artistas; alguns vieram aqui, diziam que o lugar era ideal por causa da iluminação ou algo parecido, que o lugar tem uma boa luz natural, sei lá, que por isso ela tinha feito as modificações no apartamento sabe. Mas eu sei que só vieram por causa do que aconteceu aqui mesmo, dava pra ver sabe, por que eu tenho esse dom que Deus me deu, de conseguir ver nos olhos das pessoas quando elas estão tentando me enganar. A um tempo atrás um cineasta quis alugar o apartamento por uns meses...

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