segunda-feira, 3 de agosto de 2009

O Clube (fragmentos)

“Declaro aberta a sessão!” Proferiu solenemente o Senhor M. prostrado de pé a nossa frente. Após o que todos repetiram o juramento: silêncio absoluto, escolha do substituto, o que acontecia no Clube permanecia no Clube, etc. e etc. Depois disso o presidente se levantou e abriu uma das portas que permanecia sempre fechada, só ele tinha a chave do cômodo que parecia ser uma cozinha, e após alguns segundos lá dentro voltou trazendo uma bandeja de prata, coberta por um lenço de seda vermelho sangue que ocultava um volume somente desconhecido para a Ruiva. “Todos conhecem as regras, que são muitas e necessárias, mas como é de praxe, vou repeti-las para que fiquem bem claras...” E as regras foram repetidas na lenta liturgia do presidente da sessão. Transcrevo ao leitor apenas as mais pertinentes e relativas ao acontecimento que teria início: O primeiro é escolhido por sorteio; o giro se dará sempre em sentido anti-horário, ou seja, segue a direita do que deu início; uma vez iniciado o processo, seu término só se dará com o desfecho devido...
Após o discurso de abertura, no qual todos olhavam respeitosamente para a bandeja que havia sido depositada no centro da mesa, o presidente Senhor M. estende a mão e retira o lenço de seda vermelho sangue que a cobria, revelando uma arma brilhante, um revolver Magnum 3,57 inox de cano curto e refrigerado, e uma única munição. Instrumentos esses que ainda me causavam arrepios e evocavam lembranças aterradoras, no entanto, tudo isso agora, pela segunda vez, me deixava levemente excitado. Olhei para o rosto dos outros sócios, Senhor M. parecia impassível, talvez, depois de tantos anos aprendeu a não temer mais a morte; talvez fosse apenas tolo o suficiente para acreditar que depois desses anos não sofreria mais o desfecho, como alguém que com o passar do tempo adquire imunidade a uma certa doença; ou poderia simplesmente ser indiferença, a triste e doentia indiferença a quase tudo, até mesmo a vida ou a morte; são apenas conjecturas, a face do Senhor Mostarda sempre será um enigma. A loira se esforçava, mesmo ali, em dissimular seus sentimentos, e como sempre não era inteiramente bem sucedida; por trás da máscara de tédio e impaciência se percebia facilmente o temor, acentuado talvez por uma velha lembrança; o metal frio da boca da arma contra sua têmpora e o click seco de uma câmara vazia. A Ruiva, essa não dissimulava nada, olhou para o revólver com os olhos arregalados e um tremor visível percorreu o seu corpo, sua face empalideceu levemente e os pelos de seus braços, que se mantinham apoiados na mesa, eriçaram de forma repentina; ela engoliu em seco e olhou para a Loira; a curiosidade cedeu lugar de vez ao medo...
(Esse conto de minha autoria é um típico exemplo da literatura comercial: uma leve dosagem de sarcasmo, erotismo, violência e suspense. Uma leitura simples para passar o tempo e exercitar a imaginação, aparentemente sem grandes contestações ou profundos questionamentos filosóficos.)

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